sexta-feira, 31 de agosto de 2012

COISAS INVISÍVEIS


Bem-aventurados os que não viram, e creram. (Jo 20.29.)

            Como é forte a cilada das coisas visíveis, e como é necessário que Deus nos conserve voltados para as invisíveis! Se Pedro vai andar sobre as águas, precisa andar; se vai nadar, precisa nadar; mas não pode fazer as duas coisas ao mesmo tempo. Se um pássaro vai voar, precisa afastar-se das cercas e árvores e confiar em suas asas. Mas se procurar conservar o chão ao seu alcance, seu vôo será bem precário.
            Deus teve que levar Abraão ao limite de suas próprias forças; mostrando-lhe que em seu próprio corpo ele nada podia. Abraão precisou chegar a considerar seu corpo como amortecido, para depois esperar que Deus realizasse a obra toda; e quando tirou os olhos de si mesmo e confiou só em Deus, então ficou inteiramente persuadido de que, se Deus havia feito a ele a promessa, era tam­bém poderoso para cumpri-la.
            É isso que Deus está-nos ensinando, e muitas vezes Ele tem que afastar da nossa vida os resultados positivos, até que aprendamos a nEle confiar, sem o apoio deles. Então terá prazer em tornar a Sua Palavra bem real para nós por meio de fatos visíveis, assim como já nos é real por meio da fé.
 MANANCIAIS DO DESERTO
LETTIE COWMAN

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

ALTO MAR


               

Aqueles que descem ao mar, embarcando em navios, aqueles que fazem tráfego nas grandes águas, esses vêem as obras de Jeová, e as suas maravilhas no profundo. (Sl 107.23,24.)

            Para o céu, todo vento que sopra é bom. Quem ainda não aprendeu isto, ainda não é mestre na arte, é apenas aprendiz. A úni­ca coisa que não ajuda a ninguém é a calmaria. Norte ou sul, leste ou oeste, não importa, qualquer vento pode nos levar em direção àquele porto bendito. Procuremos apenas uma coisa: fazer-nos ao mar alto, e então, não tenhamos medo de ventos tempestuosos. Façamos nossa a oração daquele velho crente: "Ó Senhor, manda-nos ao mar alto, às águas profundas. Aqui, nós estamos tão perto dos recifes que, à primeira brisa do inimigo, seremos feitos em pedaços. Senhor, manda-nos ao mar alto — às águas profundas, onde teremos espaço bastante para obter uma gloriosa vitória." — 
            Lembremo-nos disto: nossa fé mostra suas verdadeiras dimen­sões na hora da provação. Aquilo que não suporta o momento de prova não passa de mera confiança carnal. Fé em tempo de bonança não é fé.
MANANCIAIS DO DESERTO
LETTIE COWMAN

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

CRUZ PESADA


                          
Ele próprio, carregando a sua cruz, saiu... (Jo 19.17.)

            Há uma poesia chamada "A Cruz Trocada", que fala de uma mulher que, muito cansada, achou que a sua cruz era mais pesada do que a das pessoas à sua volta, e desejou trocá-la por outra. Certa vez sonhou que tinha sido levada a um lugar onde havia muitas cruzes, de diversos formatos e tamanhos. Havia uma bem pequena e linda cravejada de ouro e pedras preciosas. "Ah, esta eu posso carregar facilmente", disse ela. Então tomou-a; mas seu corpo frágil estremeceu sob o peso daquela cruz. As pedras e o ouro eram lindos, mas o peso era demais para ela.
            A seguir viu uma bonita cruz, com flores entrelaçadas ao redor de seu tronco e braços. Esta seria a cruz ideal, pensou. Então tomou-a, mas sob as flores havia espinhos, que lhe feriram os ombros.
            Finalmente, mais adiante, viu uma cruz simples, sem jóias, sem entalhes, tendo apenas algumas palavras de amor inscritas nela. Pegou-a, e viu que era a melhor de todas, a mais fácil de carregar. E enquanto a contemplava banhada pela luz que vinha do céu, reconheceu que era a sua própria cruz. Ela a havia encontrado de novo, e era a melhor de todas, e a que lhe pareceu mais leve.
            Deus sabe melhor qual é a cruz que devemos levar. Nós não sabemos o peso da cruz dos outros. Invejamos uma pessoa que é rica; a sua cruz é de ouro e pedras preciosas, mas não sabemos o peso que tem. Ali está outra pessoa cuja vida parece muito agradável. Sua cruz está ornada de flores. Se pudéssemos experi­mentar todas as outras cruzes que julgamos mais leves do que a nossa, descobriríamos por fim que nenhuma delas é tão certa para nós como a nossa. 
 MANANCIAIS DO DESERTO
 LETTIE COWMAN

terça-feira, 28 de agosto de 2012

TEMPESTADE COM CRISTO


Ali os provou. (Êx 15.25.)

            Estive certa vez na sala-de-provas de uma grande indústria de aço. À minha volta achavam-se pequenas divisões e compartimentos, e nelas, peças de aço que haviam sido provadas. Cada uma estava marcada com um número que mostrava seu ponto de resistência.
            Algumas haviam sido torcidas até se quebrarem, e a força de torção estava registrada nelas. Outras haviam sido esticadas até ao ponto máximo, e sua resistência à tração também estava ali indicada. Outras, ainda, haviam sido prensadas até ao máximo, e também estavam marcadas. O chefe das obras sabia exatamente o que aquelas peças de aço suportariam sob pressão. Sabia exatamente o que agüentariam se colocadas num grande navio, edifício ou ponte. E sabia isto porque a sala-de-provas o havia revelado.
            Muitas vezes, isto acontece com os filhos de Deus. Ele não quer que sejamos como vasos de vidro ou porcelana. Deseja ver-nos como essas peças de aço, enrijecidas, capazes de suportar torções e compressões até o máximo, sem desfalecer.
            Ele não quer que sejamos plantas de estufa, mas carvalhos batidos pelas tempestades; não dunas de areia, movidas por qual­quer rajada de vento, mas rochas de granito, arrostando os mais furiosos temporais. Para tornar-nos assim, Ele precisa levar-nos à Sua sala-de-provas do sofrimento.
            Muitos de nós não precisam de outro argumento que a própria experiência, para provar que de fato o sofrimento é a sala-de-provas da fé. 
            É muito fácil falarmos e apresentarmos teorias sobre a fé, mas, muitas vezes, Deus nos lança no cadinho para provar o nosso ouro e para separar dele a escória e as imperfeições. Felizes somos nós, se os furacões que encrespam o mar inquieto da vida têm o efeito de tornar Jesus ainda mais precioso ao nosso coração. É melhor a tempestade com Cristo do que águas mansas sem Ele. 

            Como seria, se Deus não pudesse usar o sofrimento para amadurecer a nossa vida?

MANANCIAIS DO DESERTO - LETTIE COWMAN 

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

PRESO DO SENHOR

                                  
                 Jesus, tirando-o da multidão, à parte... (Mc 7.33.)
            Paulo não só suportou as provas no meio do serviço ativo, como na solidão da prisão. É possível suportar-se a pressão de um trabalho intenso, acompanhado de severo sofrimento, e depois não resistir quando deixado à parte, fora de toda atividade religiosa; quando forçado a um estreito confinamento em uma prisão.
            Aquela ave nobre, que corta as maiores alturas, alçando-se acima das nuvens, conseguindo voar extensões enormes, mergulha no desespero quando é lançada numa gaiola, e forçada a bater contra as barras da sua prisão as asas impotentes. Você já viu uma grande águia definhar em uma pequena cela, com a cabeça curvada e as asas pendidas? Que imagem da tristeza e inatividade!
            Paulo na prisão — uma outra visão da vida. Quer ver como ele enfrenta a situação? Eu o vejo olhando por cima das paredes da prisão e por cima da cabeça de seus inimigos. Vejo-o escrever um documento e assinar seu nome, não o prisioneiro de Festo, nem de César; não a vítima do Sinédrio; mas — o "preso do Senhor".
            Ele via só a mão de Deus, em tudo aquilo. Para ele a prisão se torna um palácio. Em seus corredores ecoam brados de triunfante louvor e gozo.
            Impedido de realizar o trabalho missionário que ele tanto amava, agora constrói um púlpito — uma nova tribuna de testemu­nho — e daquele lugar de cativeiro, vêm alguns dos mais maravilho­sos e mais úteis serviços acerca de liberdade cristã. Que preciosas mensagens de luz vêm daquelas sombras escuras da prisão.
            Pense na longa linha de santos aprisionados que se sucederam no rastro do apóstolo. Durante doze longos anos, os lábios de Bunyan estiveram silenciados na prisão de Bedford. E foi ali que ele fez a maior e melhor obra de sua vida. Lá ele escreveu "O Peregrino'', o livro mais lido depois da Bíblia. Assim nos fala: "Na prisão, eu me sentia como em casa; sentava-me e escrevia, escrevia... pois a alegria me fazia escrever."
            O sonho maravilhoso da longa noite de Bunyan tem iluminado o caminho de milhões de peregrinos cansados. Uma mulher francesa, cheia do Espírito Santo, Madame Gyuon, ficou muito tempo entre as paredes de uma prisão. Como alguns pássaros cativos cujo canto é mais belo quando estão confinados, a música de sua alma voou para muito longe daquelas paredes escuras e tem feito dissipar-se a desolação de muitos corações desalentados.
            Oh, a consolação celeste que se tem elevado de tantos lugares de solidão!

MANANCIAIS DO DESERTO - LETTIE COWMAN

domingo, 26 de agosto de 2012

ROCHA ETERNA


                   
                             Não está em mim. (Jó 38.14.)
            Lembro-me de que, certa ocasião, eu disse: "É do mar que eu preciso." E fui passar alguns dias à beira-mar. Mas este parecia dizer-me: "Não está em mim!" O mar não me deu o que eu esperava. Então pensei: "É nas montanhas que vou conseguir descansar." E fui para a montanha.
            Quando acordei de manhã, lá estava o grande monte que eu tanto queria ver; mas ele disse: "Não está em mim!" Ele não me satisfez. Ah! Eu precisava era do mar do Seu amor e dos altos montes da Sua verdade dentro de mim. Foi a sabedoria que as "profundezas" disseram não estar nelas, e que se não pode comparar a jóias ou pedras preciosas. Cristo é a sabedoria, e é a nossa mais premente necessidade. O problema de nossa inquie­tação interior só pode ser resolvido pela revelação do Seu eterno interesse e amor por nós.
            Ninguém pode prender uma águia na floresta. Pode-se cercá-la de um coro dos mais maviosos pássaros, pode-se dar-lhe um poleiro no melhor galho de um pinheiro, pode-se encarregar outras aves de lhe trazerem as mais deliciosas iguarias: ela desprezará tudo. Ela estenderá suas possantes asas e fitando os píncaros dos montes, cortará os ares em direção às mansões ancestrais, situadas entre penhas e rodeadas da música selvagem dos temporais e das cascatas.
            A alma do homem, em seus vôos de águia, não achará pouso senão na Rocha Eterna. Suas mansões ancestrais são as mansões do céu. Seus rochedos são os atributos de Deus. O impulso do seu vôo majestoso é a eternidade. "SENHOR, tu tens sido a nossa morada de geração em geração." 
 MANANCIAIS DO DESERTO - LETTIE COWMAN

sábado, 25 de agosto de 2012

O CAMINHO DIVINO DA FÉ



Encerrados para aquela fé. (Gl 3.23.)
            No passado, Deus deixou que o homem ficasse sob a guarda da lei, a fim de que aprendesse o caminho mais excelente da fé. Pois na lei ele veria os altos padrões de Deus, e também reconheceria sua própria incapacidade; então estaria predisposto para aprender o caminho divino da fé.
            Deus ainda nos encerra para a fé. Nossa natureza, nossas circunstâncias, provas e desilusões, todas servem para nos encerrar guardados, até que vejamos que a única saída é o caminho divino da fé. Moisés tentou conseguir o livramento de seu povo pelo esforço próprio, pela influência pessoal, e até pela violência. Deus teve de deixá-lo quarenta anos no deserto, até ele estar preparado para o trabalho.
            Paulo e Silas foram enviados por Deus a pregar na Europa. Desembarcaram e foram a Filipos. Foram açoitados e postos na prisão com os pés no tronco. Ficaram ali encerrados para a fé.
            Confiaram em Deus. Entoaram louvores a Ele na hora mais escura, e Deus operou livramento e salvação.
            João foi exilado na ilha de Patmos: foi encerrado para a fé. Não tivesse ele sido encerrado, nunca teria visto tão gloriosas visões de Deus.
            Amado leitor, você está em alguma grande dificuldade? Teve alguma desilusão? Sofreu alguma dor terrível, alguma perda muito grande? Está num lugar difícil? Ânimo! Você está encerrado para a fé. Aceite sua dificuldade da maneira certa. Entregue-a a Deus. Louve-O porque Ele faz com que todas as coisas cooperem para o bem e porque Deus trabalha para aquele que nele espera. Você rece­berá bênçãos, auxílio e revelações de Deus que de outra forma não lhe teriam sobrevindo; e, além de você, muitos receberão grandes bênçãos e revelações porque a sua vida esteve encerrada para a fé. 

MANANCIAIS DO DESERTO - LETTIE COWMAN

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

FLORES QUE CRESCEM NA SOMBRA



Recebi tudo, e tenho abundância. (Fp 4.18.)

            Num livro de jardinagem que possuo há um capítulo com título interessante: "Flores que crescem na sombra". Trata daqueles recantos do jardim, que não recebem sol. E o manual informa quais os tipos de flor que não temem esses lugares.
            Há similares no mundo espiritual. Eles se manifestam quando as circunstâncias se tornam difíceis. Crescem nos lugares sombrios. De outra forma, como poderíamos explicar algumas das experiên­cias do apóstolo Paulo?
            Aqui está ele na prisão em Roma.
            A missão suprema de sua vida parece estar anulada. Mas é justamente nesta atmosfera, que as flores começam a mostrar seu esplendor e glória. Ele pode tê-las visto antes, crescendo na estrada aberta, mas nunca com o viço e beleza que apresentam agora. As palavras de promessa abriram seu tesouro de um modo que ele nunca vira antes.
            Entre esses tesouros havia coisas maravilhosas, como a graça e o amor de Cristo, assim como seu gozo e sua paz; e parecia que elas precisavam ser cercadas de sombra para poderem exteriorizar seu segredo e sua glória interior. Por alguma razão, essa atmosfera de sombra tornou-se o ambiente de uma revelação, e Paulo começou a perceber, como nunca dantes, toda extensão e riqueza de sua heran­ça espiritual.
            Quem ainda não conheceu pessoas que, quando chegam a lugares de sombra e solidão, revestem-se de forças e de esperança como de um manto? Elas podem ser até aprisionadas, mas levam consigo o seu tesouro. Ninguém pode separá-las dele. Poderão viver em um deserto, mas "o deserto e a terra sedenta se regozijarão; o er­mo exultará e florescerá como o narciso".
            "Toda flor, mesmo a mais bela, produz sombra, enquanto balançar à luz do sol."

MANANCIAIS DO DESERTO
LETTIE COWMAN


quinta-feira, 23 de agosto de 2012

ESPERAR EM DEUS


                         
             E partiu sem saber aonde ia. (Hb 11.8.)

            Isto é fé sem vista. Quando podemos ver não agimos por fé, mas por raciocínio. Atravessando o Atlântico, certa vez, pude observar exatamente este princípio de fé. Não víamos trilho sobre o ar, nem sinal de praia. E contudo, a cada dia estávamos marcando o nosso caminho no mapa, com tal exatidão como se estivéssemos deixando um longo traço de giz sobre o mar. E quando estávamos a uns vinte quilômetros da costa, sabíamos onde estávamos com tanta certeza, como se a tivéssemos avistado desde o ponto de partida que ficava a três mil quilômetros dali.
            Como havíamos calculado e marcado o nosso curso? Todos os dias, o capitão tomava seus instrumentos e, olhando para o céu, orientava a rota pelo sol. Estava navegando de acordo com luzes celestes, e não terrestres.
            Assim, a fé olha para cima e navega pelo grande sol de Deus, não por uma praia que no horizonte, nem por um farol, nem por um trilho que marque o caminho. Muitas vezes a rota parece nos levar a uma completa incerteza ou até mesmo a trevas e desastre; mas Ele vai à frente, e muitas vezes faz dessas horas escuras as próprias portas do dia. Avancemos hoje, sem saber, mas confiando.
            Muitos de nós queremos ver o fim do caminho antes de nos lançarmos na nova empresa. Se o pudéssemos ver, e víssemos, como iríamos desenvolver as nossas graças cristãs? A fé, a esperança e o amor não são colhidos de árvores, como as maçãs. Temos que dar o primeiro passo; e o primeiro passo é a chave que libera a corrente do poder de Deus. E não é verdade somente que Deus ajuda a quem se ajuda, mas também que ele ajuda aqueles que não podem ajudar-se. Podemos depender dEle o tempo todo."
            "Esperar em Deus leva-nos ao fim da nossa jornada muito mais depressa do que os nossos pés."
            A oportunidade muitas vezes é perdida pelo muito calcular.

 MANANCIAIS DO DESERTO -  LETTIE COWMAN

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

O CAMINHO DA FÉ

                                     


E os demais, uns em tábuas e outros em coisas do navio. E assim aconteceu que todos chegaram à terra, a salvo. (At 27.44.)

            Esta extraordinária história da viagem de Paulo a Roma, com suas provas e triunfos, é um bom exemplo do conjunto de luzes e sombras sempre presente no caminho de fé, por toda a história da vida humana. O ponto notável nessa história é que os lugares difíceis e estreitos são entremeados das mais extraordinárias intervenções e providências de Deus.
            É comum pensar-se que a vereda de fé é semeada de flores; é comum pensar-se que, quando Deus intervém na vida do Seu povo, fá-lo numa escala tão extraordinária que somos colocados acima do plano das dificuldades. A realidade, entretanto, é que a experiência mostra bem o contrário. A história da Bíblia é pontilhada de provas e triunfos, alternadamente, na vida de cada um dos que formam a grande nuvem de testemunhas, desde Abel até ao último mártir que houver.
            Paulo, mais do que outro qualquer, foi um exemplo de quanto um filho de Deus pode sofrer sem ser esmagado ou despedaçado no espírito. Por causa de seu testemunho em Damasco, foi perseguido pelos adversários e obrigado a fugir para salvar a vida. Mas não vemos uma carruagem celeste cercada de raios, trovões e chamas, arrebatando o apóstolo do inimigo; e sim, que o desceram pela muralha de Damasco "dentro de um cesto", e assim escapou. Num cesto, como uma trouxa de roupas sujas, ou um pacote de compras do empório, o servo de Jesus Cristo foi descido por uma janela e fugiu dos inimigos ignominiosamente.
            De outra vez o encontramos deixado por meses numa prisão isolada, e o ouvimos falando de suas vigílias, seus jejuns, da deserção de amigos, dos brutais e vergonhosos açoites. Em nosso texto, mesmo depois de Deus ter prometido livrá-lo, nós o vemos sofrer durante vários dias os embates de um mar encapelado, obrigado a apaziguar os pérfidos marinheiros.
            Por fim, quando vem o livramento, não vemos uma galera vindo do céu para apanhar do naufrágio o nobre prisioneiro, não vemos um anjo andando sobre as águas e aquietando os furiosos vagalhões, não vemos nenhum sinal sobrenatural de que esteja sendo operado um milagre transcenden­te: vemos um homem a segurar-se a um mastro, outro, a uma tábua flutuante, outro agarrar-se a um destroço qualquer, outro, ainda, a salvar-se a nado.
            Aqui está o padrão de Deus para nossa vida. Aqui está uma ajuda do evangelho para pessoas que têm de viver neste mundo atual, no meio de circunstâncias comuns e situações comuns, as quais têm de ser encaradas de uma maneira totalmente prática.
            As promessas de Deus, e as Suas providências, não nos elevam acima do plano do senso comum e da lida corriqueira, mas é exatamente através dessas coisas que a fé é aperfeiçoada e que Deus Se agrada de entretecer, na urdidura da nossa experiência de cada dia, os fios de ouro do Seu amor.

MANANCIAIS DO DESERTO - LETTIE COWMAN,

terça-feira, 21 de agosto de 2012

LUGAR ESPAÇOSO

                 



Trouxe-me para um lugar espaçoso; livrou-me, porque ele se agradou de mim. (Sl 18.19.)

            E o que é esse lugar espaçoso? O que pode ser, senão Deus mesmo? Aquele Ser infinito, em quem terminam todos os outros seres e todas as outras fontes de vida? Deus é de fato um lugar espaçoso. E foi através de humilhação, de rebaixamento, de aniquilamento, que Davi foi trazido a esse lugar. — Madame Guyon
            
Como vos levei sobre asas de águias e vos cheguei a mim. 
(Êx 19:4) 

Temendo me entregar inteiro em Sua mão,
 Perguntei ao Senhor o que aconteceria...
Em que porto daria a minha embarcação...
"Em Mim", disse o Senhor.

Chorando por alguém, rasgado o coração,
Perguntei ao Senhor aonde me levaria
O trilho em que me via, de dor e solidão.
"A Mim", disse o Senhor.

Trabalhando no campo, a cumprir Seu chamado,
Tive gostos, porém desapontos achei.
Mas a voz escutei, quando triste e cansado:
 "Para Mim te chamei."

Quando olhei meus heróis, deles tanto esperando,
Vi-os errar, cair, e a força me fugiu...
Mas disto se serviu e, o pranto me enxugando,
Para Si me atraiu.

Para Si! Encontrei o descanso almejado
Desde o dia feliz em que nEle ancorei!
NEle estou, dEle sou, pois meu ser, quebrantado,
Para Si conquistou! 

MANANCIAIS DO DESERTO - LETTIE COWMAN

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

A PRIMEIRA BÍBLIA IMPRESSA


Ano 1456 - João Gutenberg produz a primeira Bíblia impressa

Durante a Idade Média, apenas poucas pessoas possuíam a Bíblia ou livros de qualquer tipo. Os monges copiavam os textos à mão, em folhas de papiro ou em pergaminhos feitos de peles de animais. O custo desses materiais e a remuneração do tempo utilizado pelos copistas estavam muito além das posses do homem comum, mesmo quando o livro que determinada pessoa quisesse ler estivesse ao seu alcance.
Não havia muitas pessoas que conseguiam ler na própria língua, e muitos livros — incluindo-se a Bíblia — estavam disponíveis apenas em latim, língua que um número ainda menor de pessoas compreendia. O povo comum confiava no sacerdote local e nos desenhos ou nas imagens da igreja para obter informação sobre a Bíblia. O sacerdote local, com freqüência, tinha pouco ou nenhum treinamento em latim, e seu conhecimento da Bíblia era bastante precário. Embora os estudiosos debatessem sobre as Escrituras e escrevessem comentários, seus pensamentos dificilmente chegavam até o cristão comum.
Uma das maiores mudanças do século xv teve enorme impacto sobre essa situação. Na década de 1440, João Gutenberg experimentou a impressão com tipos móveis de metal. Ao montar um livro com tipos de chumbo, ele podia fazer muitas cópias a um custo muito inferior ao de um texto copiado à mão.
Em 1456, Gutenberg — ou um grupo do qual ele fazia parte — imprimiu duzentas cópias da Vulgata, a Bíblia latina, revisada por Jerónimo. O homem comum não podia ainda compreender a Palavra de Deus, mas esse foi o primeiro passo de uma enorme revolução.
Durante algum tempo, os impres-sores de Mainz guardaram segredo sobre as técnicas de Gutenberg, mas, em 1483, quando Martinho Lutero nasceu, todos os grandes países da Europa já tinham pelo menos uma máquina de impressão. No espaço de cinqüenta anos, desde a primeira impressão da Bíblia de Gutenberg, os impressores já haviam ultrapassado a quantidade de material que os monges produziram em vários séculos. Os livros passaram a ser disponibilizados em diversas línguas, e houve um aumento do número de pessoas que sabiam ler e escrever.
Sem a invenção de Gutenberg, talvez os objetivos da Reforma tivessem levado mais tempo para ser alcançados. Uma vez que apenas o clero podia ler a Palavra de Deus e compará-la aos ensinamentos da igreja, a Bíblia tinha um impacto limitado sobre o cristão comum.
Com a invenção da máquina de impressão, Lutero e os outros reformadores poderiam fazer com que a Palavra de Deus ficasse disponível "a todo jovem do campo e a qualquer empregada doméstica". Lutero traduziu as Escrituras para um alemão bastante eficaz e de fácil leitura, usado durante vários séculos. A partir do momento em que todos tiveram acesso à Bíblia, nenhum sacerdote, papa ou concilio se colocava entre o cristão e sua compreensão da Bíblia. Embora muitos afirmassem que o homem comum poderia não compreender a Palavra de Deus e talvez precisasse que ela fosse interpretada pelos clérigos, os alemães começaram a fazer exatamente isso.
Conforme liam, esses homens e mulheres comuns começaram a se sentir parte do maravilhoso mundo da Bíblia. O ensinamento da Bíblia em casa tornou-se possível. Lentamente, a barreira entre o pastor e o membro da igreja foi destruída. Em vez de se preocupar com o pensamento "O que tenho de confessar ao sacerdote?", o crente podia perguntar: "Será que a minha vida está de acordo com a Palavra de Deus?".
Com a invenção de uma complexa ferramenta de impressão, um fogo foi aceso por toda a Europa, uma chama que espalhou tanto o evangelho quanto a instrução.
Com bastante freqüência, isso assumiu a forma de troca de idéias teológicas e o afastamento dos grupos heréticos da igreja. Porém, a igreja — que ainda não fora capaz de alçar vôo — não poderia impor qualquer sistema de fé aos que estavam no erro.
Em 1184, o papa Lúcio in, preocupado com o sistema de crenças dos freqüentadores da igreja, pediu que todos os bispos "inquirissem" sobre as crenças de seu rebanho. Um homem que fosse culpado de heresia seria excomungado, ou seja, colocado para fora da igreja. Contudo, não deveria ser punido fisicamente e, caso se retratasse de sua heresia, seria readmitido à igreja. Teoricamente, a igreja usou esse instrumento tanto para corrigir de maneira amorosa um irmão que estava equivocado quanto para proteger os outros desse erro.

Os 100 Acontecimentos mais importantes da história do Cristianismo
A. Kenneth Curtis
J. Stephen Lang
Randy Petersen


domingo, 19 de agosto de 2012

ALEGRIA


Entristecidos, mas sempre alegres. (2 Co 6.10.)
            A Tristeza era bela, mas sua beleza era como a beleza do luar, quando passa através dos ramos das árvores na mata e forma pequenas poças de prata pelo chão.
            Quando a Tristeza cantava, suas notas soavam como o doce e suave gorgeio do rouxinol, e em seus olhos havia aquele ar de quem cessou de esperar pela vinda da alegria. Ela sabia, compadecida-mente, chorar com os que choram; mas alegrar-se com os que se alegram era-lhe desconhecido.
            A Alegria era linda também, e a sua beleza era como a beleza radiante de uma manhã de verão. Seus olhos ainda traziam o riso alegre da meninice, e em seus cabelos pousava o brilho do sol. Quando a Alegria cantava, sua voz se lançava aos ares como a da cotovia, e seus passos eram como os passos do vencedor que jamais conheceu derrota. Ela podia alegrar-se com os que se alegram, mas chorar com os que choram era-lhe desconhecido.
            "Nós nunca podemos estar unidas", disse a Tristeza pensativa.
            "Não, nunca.", E os olhos da Alegria ficaram sérios, quando respondeu. "O meu caminho atravessa campos ensolarados; as roseiras mais lindas florescem quando eu passo, para que as colha, e os melros e tordos esperam minha passagem, para derramar seus mais alegres trinados."
            "O meu caminho", disse a Tristeza afastando-se vagarosamen­te, "atravessa a mata sombria; minhas mãos só podem encher-se das flores noturnas. Contudo, toda a beleza e valor que a noite encerra me pertencem! Adeus, Alegria, adeus."
            Quando ela acabou de falar, ambas tiveram consciência de uma presença próxima; indistinta, mas com um aspecto de realeza. E uma atmosfera de reverência e santidade as fez ajoelharem-se perante Ele.
            "Eu O vejo como o Rei da Alegria", murmurou a Tristeza, "pois sobre a Sua cabeça estão muitas coroas, e as marcas das Suas mãos e pés são sinais de uma grande vitória. Diante dEle toda a minha tristeza está-se transformando em amor e alegria imortais, e eu me dou a Ele para sempre."
            "Não, Tristeza", sussurrou a Alegria, "eu o vejo como o Rei da dor; Sua coroa é de espinhos, e as marcas das Suas mãos e pés são marcas de uma grande agonia. Eu também me dou a Ele para sempre, pois a tristeza com Ele deve ser muito mais doce do que qualquer alegria que eu conheço."
            "Então, nele, nós somos uma"m exclamaram com júbilo; "pois somente Ele poderia unir Alegria e Tristeza."
            De mãos dadas, saíram elas para o mundo, para segui-lO na tempestade e na bonança, na desolação do inverno e na alegria do verão, "entristecidos, mas sempre alegres".

O servo do Senhor,
Embora entristecido
Pelas coisas que oprimem
E a batalha cerrada
(Porque os dias são maus.
E os tempos, trabalhosos!)
Conhece uma alegria
E uma paz interior
Que o mundo não conhece,
E que ninguém lhe tira;
O gozo e a paz de Deus!

LETTIE COWMAN - MANANCIAIS DO DESERTO,

sábado, 18 de agosto de 2012

CONFIANÇA EM DEUS


Confio em Deus, que sucedera do modo por que me foi dito. (At 27.25.)
            Alguns anos atrás, fiz uma viagem aos Estados Unidos em um navio cujo capitão era um crente muito dedicado. Quando nos aproximávamos das costas da Terra Nova, ele me disse: "A última vez que atravessei este trecho, há um mês, aconteceu uma coisa que revolucionou toda a minha vida cristã. Encontrava-se a bordo George Müller.
            Eu estivera 24 horas na ponte de comando. George Müller procurou-me e disse: 'Capitão, vim dizer-lhe que preciso estar em Quebec no sábado à tarde.' É impossível', respondi. 'Muito bem, se o seu navio não pode levar-me, Deus achará outra maneira. Há 57 anos que nunca quebro um compromisso. Desçamos até a cabine de mapas. Vamos orar.'
            "Olhei para aquele homem de Deus e pensei de que asilo de lunáticos teria ele fugido. Eu jamais tinha ouvido coisa semelhante. 'Sr. Müller', disse eu, 'o senhor sabe a densidade desta neblina?' 'Não', respondeu ele, 'meus olhos não estão fixos na densidade da neblina, mas no Deus vivo, que controla cada circunstância da minha vida.'
            "Ele se ajoelhou e fez uma das orações mais simples que já ouvi, e quando acabou, eu iria orar; mas ele pôs a mão no meu ombro e me disse que não o fizesse. 'Em primeiro lugar, você não crê que Ele atenderá, e em segundoS, eu creio que ele já respondeu, e não há mais necessidade de que você ore.'
            "Olhei para ele, e ele me disse: "Capitão, já faz 57 anos que eu conheço o meu Deus, e nunca houve um só dia que eu deixasse de ter audiência com ele. Levante-se, Capitão, e abra a porta, e verá que a neblina se foi.'.
            Levantei-me e vi que assim era. No sábado à tarde, George Müller estava em Quebec para o seu compromisso." — Selecionado.

MANANCIAIS DO DESERTO -  LETTIE COWMAN,

JACÓ LUTA COM DEUS


Ficando ele só; e lutava com ele um homem até ao romper do dia. (Gn 32.24.)
            Isto era mais Deus lutando com Jacó, do que Jacó lutando com Deus. Era o Filho do homem, o Anjo da Aliança — era Deus em forma humana, lutando para tentar expulsar de Jacó sua velha vida.
            E antes que a manhã rompesse, Deus havia prevalecido e Jacó caíra com a coxa deslocada. Mas ao cair, caiu nos braços de Deus, e neles se agarrou e lutou mais, até que a bênção veio; e a nova vida surgiu, e ele foi elevado do natural para o sobrenatural, do terreno para o celeste, do humano para o divino.
            Ao prosseguir em seu caminho naquela manhã, ele era um homem fraco e quebrado, mas Deus estava com ele. E a voz do céu proclamou: "Não se chamará mais o teu nome Jacó, mas Israel; pois como príncipe lutaste com Deus e com os homens, e prevaleceste.",
            Amado leitor, esta será sempre uma cena típica de cada vida transformada. Se Deus nos tem chamado para um plano mais alto e melhor, teremos que passar pela hora de crise. Hora em que todos os recursos humanos falham; hora em que enfrentamos, ou ruína, ou algo superior a tudo com que sonhamos; hora em que pre­cisamos da infinita ajuda de Deus! Contudo, sabemos que, antes de podermos ter essa ajuda, precisamos desistir de alguma coisa; preci­samos render-nos completamente; precisamos abandonar nossa pró­pria sabedoria, força e justiça, e tornar-nos pessoas crucificadas com Cristo e vivas nEle! Pois bem, Deus sabe levar-nos a essa crise, e sabe fazer-nos atravessá-la.
            Será que Ele o está conduzindo assim, prezado leitor? É isto que significa sua profunda aflição, seu ambiente difícil, aquela situação penosa, aquele lugar de provação aonde você não pode ir sem Ele, e contudo não tem bastante dEle para lhe dar a vitória?
            Volte-se para o Deus de Jacó! Lance-se totalmente a Seus pés. Morra para a sua própria força e sabedoria, abandone-se em Seus braços amorosos, e depois levante-se, como Jacó, pela força e sufici­ência dEle. A única saída desse seu poço estreito é no topo. Você pre­cisa obter livramento, elevando-se a um plano mais alto e entrando numa nova experiência com Deus. Que ela possa trazê-lo a tudo o que está contido na revelação do Poderoso de Jacó! — But God
Jacó ficou só
No vale de Jaboque,
E ali viu a face de Deus.
E o dia nascido,
Trazendo os seus males,
Achou, no caminho, Israel.

MANANCIAIS DO DESERTO-LETTIE COWMAN


Só. (Dt 32.12.)

Era íngreme a subida, porém pelo caminho
As vozes animadas, dos outros, me animavam.
Então pensei que assim seria até lá em cima.
E com isso me alentei. Porém, a certa altura,
Um trilho apareceu, estreito e perigoso;
E o Mestre me falou: "Meu filho, neste trecho
É muito mais seguro andar comigo só. "
Estremeci; ... porém, confiante em Seu amor,
Eu disse: "Sim, Senhor."
O Mestre me tomou a mão ainda tremente,
 E com ela o coração, que todo se entregou:
NEle tudo lançando; dEle tudo esperando.
E na vereda estreita, só nEle me apoiando,
A ninguém mais eu vi, senão Jesus somente.
Porém, que horas sublimes, que doce companhia;
E conversou comigo, e trouxe-me confortos.
Exortações, ensinos, e abriu-me tais tesouros
De Seu amor por mim,
Que todo o ser Lhe abri, contando-Lhe os meus ais.
e dEle fui bebendo; e mais, e mais e mais...
Então eu percebi meus passos tão mais leves
E que uma luz sem par cercava o meu caminho
A luz que só nos vem de andarmos com o Senhor.
E fui andando assim...
Daqui a um pouco mais, ali nós estaremos,
A ver quantos queridos, há tanto separados...
 Gozo sem fim será. Juntos, os peregrinos
Terão pra recordar memórias as mais doces,
Da suficiência, aqui, da graça do Senhor.
E ali, nas ruas de ouro eu gosto de pensar...
Entre as recordações da caminhada aqui,
Que bom será lembrar (toda vez com louvor!)
Aquele dia escuro, aquele trilho estreito
 Que Jesus nos chamou a subir, passo a passo,
 Confiando nEle só, e provando o Seu braço!        
            Adaptado

            "Não há um monte alto sem que haja um vale fundo ao lado. Não há nascimento sem dores de parto." — Dan Crawford

MANANCIAIS DO DESERTO